segunda-feira, fevereiro 27, 2006

A Folha

Escrevo mais um capítulo da minha vida, enrolo ideias e solto as palavras - letra à letra - em mais uma folha. A minha vida numa folha. A minha vida É uma folha!
Pego nessa Folha, leio-a mais uma vez. Leitura ligeira, um errozito aqui, uma vírgula a mais acolá. Ninguém é perfeito, não é?

"Bruno, gosto muito do que escreves! Tens jeito, és tão sincero e verdadeiro na mensagem que transmites. És muito romântico, sabias? Podes dar-me a tua folha, por favor? Pleeeaseee! :)"

Sim, sabia. Claro que sabia! Sabia e sei. Sou romântico...

"Toma! Fica com a Folha, promete-me que a tratas bem."

Despediu-se com um sorriso leve, parecia de confiança.Fiquei feliz com o sucedido, a Folha estava em boas mãos!

***

O tempo passou e lentamente percebi que não tinha onde escrever. Já não tinha a Folha...e agora?
As saudades apertavam, a fome crescia a um ritmo completamente louco. Onde está Ela? Quero-A de volta! Sinto tanta falta da minha Folha...

"Olá, tudo bem contigo? Lembras-te de mim? Sou o rapaz da Folha, não te recordas?Qual folha?! A Folha! A minha Folha! A Folha, bolas! A Folha que te dei.Tu o quê? Não, não podes ter feito isso. Tu não fizeste isso! Mas...não, não acredito! No lixo? Mas...tu deitaste *glup* tu deitaste a minha Folha no lixo?"

***

Não seremos nós Folhas de papel? Escrevemos Nelas aquilo que sentimos, o que queremos, transmitimo-Lhes os nossos gostos e desgostos. Damos a Folha a alguém, pedimos-lhe que A guarde como se da própria vida se tratasse. Uns guardam-nA no cofre, outros preferem mantê-lA na gaveta. Há quem não se canse de A ler e há aqueles que se fartam e deitam-nA fora.
Se vos rasgarem a Folha, não deixem de escrever! Se deitarem a vossa preciosa Folha para o lixo, não se deixem abater! Peguem no vosso caderno, rasguem uma outra folha e transformem-na na vossa Folha. Escrevam e partilhem, um dia encontrarão alguém que seja realmente apaixonado pela vossa escrita e que guardará a Folha para sempre!

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Massacre do dia de São Valentim

Dia 14 de Fevereiro - Saíu do bar já meio tonto, desorientado não só com a própria vida mas também com o espírito. Sentou-se no passeio a recordar porque motivo tinha começado a beber naquela noite e veio-lhe o filme à memória:
- Brindemos ao respeito! Ao respeito por nós, ao respeito por cada um e ao respeito por vocês próprios.
Foi o primeiro "shot" dessa noite. Palavra que significa um tiro ou uma descarga. Tiro nas feridas para descarregar as frustrações. Ou apenas descarregar o stress e dispararmos rumo a uma noite diferente. Meias palavras entre conversas e gargalhadas. Ainda nem o último tinha aconchegado o estômago e já tinha mais dois à frente. Ganhei confiança, olhei-te de frente e mandei-te abaixo. Era este o "shot" que precisava para esquecer que tenho medo ou era o que me iria dar confiança para o próximo "tiro"? As mágoas dentro de um copo, a descrença num gesto repetido de quem o levanta. Respirei fundo, bebi mais um e já inebriado arrastei-me para a felicidade. O álcool liberta-nos no seu calabouço.
Meio tonto, meio alegre levantei-me e dirigi-me à casa de banho. Heráclito disse que não cruzamos o mesmo rio duas vezes
porque ao entrarmos pela segunda vez, não serão as mesmas águas que estarão lá e mesmo a pessoa já será diferente. Compreendia finalmente essa frase enquanto via as frustrações a irem ralo abaixo. Saí com o espírito iluminado de felicidade, dirigi-me à minha mesa e voltei a sentar-me. Desta vez fui eu que mandei vir os "shots".
- Esta rodada sou eu que pago!
Mal sabia onde me estava a meter. Bebi um, outro e ainda mais um.
Um atrás do outro, o massacre tinha um sabor de vingança com mistura a vitória. E toda a gente sabe que o mal está nas misturas!
Enquanto estava encostado às cordas sem saber o que me tinha atingido badalavam três palavras na minha cabeça. Carinho. Carinho por aqueles que amamos e nos apoiam nos momentos em que o mundo desaba sobre nós e precisamos de uma mão amiga. Paixão. Paixão pela vida. Pela nossa vida que independentemente de ser boa ou má é a nossa vida. E só nós temos o poder de moldá-la e criar algo belo. Por fim a sedução! A sedução é a conquista, a atracção pelo outro, é o encanto que se vive numa qualquer noite com alguém que ainda não se conhece ou numa tarde agradável com alguém que se conhece desde sempre.

Vi-o finalmente a levantar-se do passeio. Parecia cansado de uma noite agitada, ainda assim caminhava de sorriso rasgado. Presenciei ao "Massacre do dia de São Valentim", mero espectador pude constatar que apesar dos seus objectivos não terem sido todos concretizados este jovem tinha tido uma noite memorável. Pelo menos até à manhã seguinte...